A documentação objeto desta pesquisa é fruto direto da vida cotidiana do complexo agroindustrial proveniente dos períodos do açúcar e do café que, no século XIX, foi aos poucos sendo implantado no vale do Rio Itapemirim, sul da província do Espírito Santo. Cativos negros eram violentamente trazidos de diversas regiões do Continente Africano para trabalhar nessas fazendas e na recém-fundada Vila de Itapemirim. Mesmo sofrendo grandes violências – que iam da total falta de liberdade, do excesso de exploração de seu trabalho, da violência física e da tentativa de destruição de sua cultura (língua, religião e modos de sociabilidades) –, eles conseguiram se adaptar a um meio tão perverso e reconstruir sociabilidades, adaptando-se à nova realidade, inclusive à nova religião, que, violentamente, eram obrigados a “professar” (prova disso é que, entre eles, havia casamentos, batismos e velórios).
Esses eventos rotineiros, tanto de pessoas escravizadas cativos como de livres, resultavam em registros documentais da Paróquia Nossa Senhora do Amparo. Os padres constituíam uma autoridade e utilizavam os livros de tombo, por exemplo, como diários de uma sociedade em um tempo que a imprensa não chegava a todos. Dessa forma, seus registros se tornavam a materialidade da “verdade” de um tempo. Graças a uma pesquisa histórica e por meio desta documentação, que compõe 120 livros e 35.316 páginas de documentos, é possível compreender também um sistema político e econômico dominante durante grande parte da história capixaba. O interesse público e social dos documentos, além da nossa motivação em trabalhar com este acervo, está caracterizado por alguns dispositivos legais, por se tratar de uma documentação de um período sensível da história brasileira e para a garantia do exercício de cidadania de parentes e sucessores como aspecto de registro civil.
EISBN: 978-65-5440-165-4
DOI: 10.29327/5303244